Se está a ponderar mudar-se para Portugal em busca de uma melhor qualidade de vida, é importante ter em mente que um planeamento financeiro cuidado é essencial. Nos últimos anos, o custo de vida em território nacional tem registado um aumento significativo, sobretudo nas grandes cidades.
Razões para o aumento do custo de vida
Dois factores principais contribuíram para o agravamento do custo de vida em Portugal: o crescimento do turismo e o aumento da imigração. Estas duas dinâmicas provocaram pressões significativas no mercado de arrendamento, seguindo a lógica da lei da oferta e da procura.
Com o turismo em alta, muitas habitações foram convertidas em alojamento local (como Alojamento Local ou AirBnB), reduzindo a oferta de imóveis para arrendamento tradicional. Paralelamente, o Estado português tem vindo a incentivar a imigração, com a criação de novos tipos de visto e facilitação de entrada de investidores estrangeiros, o que trouxe novos residentes e aumentou a procura no mercado imobiliário.
Durante a pandemia de 2020, os preços dos imóveis estabilizaram temporariamente. No entanto, com o regresso do turismo e o aumento dos investimentos estrangeiros, os valores voltaram a subir acentuadamente.
De acordo com o portal Idealista, em Dezembro de 2020, o valor médio do metro quadrado para arrendamento era de 11,1€/m². Em Dezembro de 2022, subiu para 12,9€/m², e no final de 2024, atingiu os 16,1€/m².
Aumento do custo dos bens essenciais
Segundo dados do Índice de Preços no Consumidor (IPC) entre 2022 e 2024, observou-se um aumento expressivo nos preços dos produtos alimentares, apesar de os relatórios mais recentes indicarem sinais de estabilização. Ainda assim, ir às compras em 2025 traduz-se muitas vezes em regressar com menos produtos e um recibo mais elevado.
A energia é outro fator que tem contribuído para o aumento do custo de vida. Desde Janeiro de 2025, os preços da electricidade aumentaram 2,1%. Segundo a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), este aumento representa um acréscimo entre 0,64€ e 1,60€ mensais na factura da electricidade, sem contar com taxas e impostos.
Cidades mais afectadas pelo aumento
As cidades mais impactadas pelo aumento do custo de vida são aquelas que receberam maiores fluxos de turismo e imigração:
- Lisboa (capital).
- Coimbra (centro)
- Porto (Norte).
- Faro (Algarve, Sul).
A cidade de Braga, no Minho, tem também registado um crescimento acelerado em popularidade entre investidores e imigrantes. Como resultado, o custo de vida aumentou de forma notável, especialmente no arrendamento. O valor do metro quadrado em Braga passou de 5,90€ em Novembro de 2020 para 9,70€ em Novembro de 2024.
Nos restantes sectores — como alimentação, vestuário, telecomunicações e lazer — não existem grandes variações de preços entre cidades, sendo os custos relativamente uniformes.
As cidades do interior e aquelas com menor afluência turística, como Viseu, Guarda, Castelo Branco ou Beja, continuam a apresentar um custo de vida relativamente mais estável em comparação com os grandes centros urbanos. Este equilíbrio deve-se, em grande parte, à menor pressão sobre o mercado imobiliário, o que permite que os preços de arrendamento e aquisição de habitação permaneçam consideravelmente mais acessíveis — em média entre 30% a 50% mais baixos do que em Lisboa ou no Porto.
No entanto, apesar dessa estabilidade habitacional, os residentes destas regiões também enfrentam o aumento do custo de vida noutras áreas essenciais. Produtos alimentares, combustíveis e contas de serviços básicos, como eletricidade, gás e água, têm registado subidas significativas, afectando igualmente a população do interior. Por exemplo, os custos com energia subiram em média 2% a 3% em 2025, acompanhando a tendência nacional, e os cabazes alimentares apresentam acréscimos mensais entre €20 e €40 face a 2022, mesmo nas zonas com menor densidade populacional.
Salários em Portugal
Portugal continua a ter um dos salários mínimos mais baixos da União Europeia. No entanto, o governo português comprometeu-se com aumentos progressivos até 2030.
- Em Janeiro de 2025, o salário mínimo nacional subiu 50€, passando de 820€ para 870€ mensais (14 meses).
- O salário médio no terceiro trimestre de 2024 foi de 1.528€, representando um crescimento nominal de 6,1% face ao mesmo período de 2023, segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística).
Contudo, em termos reais, ou seja, considerando o efeito da inflação, o aumento foi de apenas 3,8%. Isto significa que o aumento do custo de vida tem vindo a ultrapassar o crescimento dos salários, o que agrava a pressão sobre os orçamentos familiares.
Portugal continua a ser um país atractivo para viver, sobretudo por fatores como a segurança, o clima ameno, a gastronomia e o acesso à saúde pública. No entanto, é importante reconhecer que o custo de vida tem aumentado, especialmente nos centros urbanos mais procurados.
Quem pretender mudar-se para Portugal — seja para trabalhar, estudar ou viver a reforma — deve avaliar cuidadosamente o orçamento, considerar opções fora dos grandes centros e estar atento às dinâmicas do mercado imobiliário e laboral.